. A TEORIA DOS QUATRO COMPL...
. PRIMÍCIAS DO ROTEIRO S. O...
PORTUGAL E EUROPA, AS DUAS FACES DA LUA ?
UM PORTUGAL SUCUMBIU, MAS UM NOVO SE ERGUE ...
QUAL É ESSE NOVO ESPLENDOR DE PORTUGAL ?
" O que interessa não são as condições da existência da população do Interior e os acessos à saúde. Interessa é a média da quilometragem europeia em que um doente está longe do hospital."
in Jornal do Fundão, Edição de 27 de Março : cf. Miguel Real, pp 22-23
Muito se tem falado, nestes últimos tempos, na sensação, partilhada pela sociedade civil portuguesa, de um mal-estar difuso que se vive nos mais diversos recantos do nosso território nacional. Claro que, nesta matéria, o Interior português, nomedamente o beirão, prima por dar cartas : uma excelsa figura emblemática da panorama actual.
Neste dia bem soalheiro, tivemos o privilégio de encontrar alguém que, de alguma forma, subscreve muito de tudo aquilo que temos procurado enfatizar : a tecnocracia centralizadora e estatizante, que impera nos meandros da actividade político-partidária, não deixa espaço para os "quixotescos objectores de consciência anti-estatísticas" poderem respirar. Não restam dúvidas a ninguém, pensamos nós, que este sintoma, bem captado pelo primor do senso comum, esta espécie de apneia colectiva, é a prova mais que provada de que são os NÚMEROS quem COMANDAM A VIDA ; para muito desgosto de António Gedeão, alma grande mais afecta aos sonhos.
Até parece que as Utopias desfalecerem, depois do fracasso insuportável da ex-URSS. Não seria de supor, questionamos nós, que depois da Queda do Muro de Berlim, muitas outras fantasias, em nome de um mundo melhor, passassem a proliferar ?
Da parte do professor, ensaísta e pensador da Cultura Portuguesa, Miguel Real, a propósito do pensentimento colectivo da Terra de Santa Maria, o grito que se faz ouvir é, em tons bem dissonantes dos de Antero de Quental, a declaração de morte de Portugal ; pelo menos, de um Portugal : o do Império ; o do V Império.
ÚLTIMO LIVRO DE MIGUEL REAL, "A MORTE DE PORTUGAL"
Em termos muito resumidos, os Surreal são favoráveis a um aprofundamento da essência do "ser português", sob pena de qualquer resposta criativa encontrada ou de uma qualquer "boa prática estrangeira importada", vir a desmoronar, em pouco mais do que um ápice, como se de um castelo de cartas se tratasse. Daí, o termos parado, por momentos, para ouvir Miguel Real.
O que nos traz, hoje, é a sua teoria dos Quatro Complexos culturais da nossa identidade colectiva :
o primeiro, que ele intitula de Complexo de Viriato, originário da primeira metade do século XVI, numa altura em que o país vivia o auge da sua expansão ultramarina, posto a nu - segundo o autor - pela pena atenta de Sá de Miranda, que tende a elevar a humildade e a ética nacionalista de Viriato em detrimento da asquerosa fidalgia, vivendo luxo e luxuriosamente à custa do dinheiro oríundo da Índia ;
o segundo complexo, temporalmente muito próximo do primeiro já dado a conhecer, cola-se à nossa marcante perda da Independência política para Espanha, no dealbar da prolongada distania filipina vinda de terras castelhanas : este é o Quinto Império, do mais esplendoroso orador de que há memória, o sacerdote jesuíta e diplomata, António Vieira, doando à posteridade todo o seu providencialismo messiânico, fazendo reacreditar a nação de que a época de ouro voltaria, de novo, um dia, até mesmo o nosso Agostinho da Silva ;
o terceiro, nos alvores da Restauração, no rescaldo de uma depressão violenta, demonstrou muitas dificuldades na hora de matar a fome às populações, intensificando-se esta tendência no Reinado de D. João III, até ao aparecimento irrompante do Marquês de Pombal e à muleta do ouro do Brasil, que pouco mais fez do que alimentar falsas ilusões a uma economia debilitada, obsoleta e inoperante do ponto de vista da sustentabilidade, celebrada pela corte em alto devaneio - pelos vistos, o apodo de pombalino é capaz de assentar que nem uma ajustada carapuça ;
e, por último, o quarto complexo, classificado de canibalista, pelo especialista em Estudos e Cultura Portuguesa, forjado no seio do mito sebastiânico bem caro ao nosso anseio de imortalidade, que vai mantendo intacta uma certa crença na única tábua de salvação credível : uma forte e implacavelmente branda mão de um modelar homem de estado.
António de Oliveira Salazar sofreu, pois, do complexo de Viriato : "(...) puros, modestos, pobres mas honrados, orgulhosamente sós, mas portugueses (...)".
Já da parte do actual Primeiro-ministro, José Sócrates, Miguel Real afirma peremptoriamente que "(...) é um perfeito pombalino (...)", a que se associam todos aqueles que, sentido alguma vergonha em se assumirem como portugueses, preferem ver no paradigma europeu a poção mágica para a náusea social que vai espreitando ao nosso redor quotidiano.
Há que recuperar, a todo o custo e o mais depressa possível, a linha da frente desse pretenso pelotão europeu de referência ; redescobrir, portanto, o novo Brasil, chamado Europa, a única janela entreaberta para amortecer a queda vertiginosa do nosso Quinto Império, aquele a quem Vieira vaticinou como sendo o instrumento de Deus, para fazer reinar a paz e a prosperidade.
Malgrado esta demarcada tendência de morte acelerada de um velho país desgastado, o novo berço acolhedor, centrado no eixo franco-alemão, vá criando ilusões vãs cuja realidade transfigurada se confunde, cada vez mais, com um novo recém-criado pseudo-Portugal, no qual nenhum destes quatro traços psicanalíticos vê chegada a hora da sua constatação. D. Sebastião, a Saudade, o Fado, o Quinto Império e a História legada pelos nossos antepassados, teimam, assim, em vestir-se de tonalidades cromáticas pouco apreciadas pelas novas gerações, os vestutos cinco escudetes do estandarte, já imersas nesta nação europeízada em costumes pós-modernos.
O resultado desta marasmo colectivo é, tão somente, um Portugal europeu "asséptico, inodoro e incolor", no qual "os princípios espirituais, religiosos, filosóficos que nos governaram" se encontram em vias de extinção, em troca de um relativismo europeu, provavelmente, mais americanizado e carcomido...
Não deixa de ser estranho, notam, os Surreal, em jeito de apontamento final, que, no seio de um "tudo é possível" ético, brote, com crescente confiança, um modelo de Estado de matizes autoritários light, adornadas por uns cosméticos darwinistas, ora eugénicos, ora tecnocratas.
Afinal de contas, que Europa é esta ? Que novo Portugal estaremos nós a engendrar, por via destas resoluções ?
Da nossa parte, entendemos que, em primeira instância, nós portugueses, sem complexos em ter complexos, devemos, prioritariamente, "olhar para dentro de nós mesmos" e perceber aquilo que, realmente, nos distingue dos outros povos.
A Europa virá depois : só assim, com este tipo de contributo nacional, a garantir por cada um dos Estados- Membros, será viável um inovador modelo europeu verdadeiramente sólido para as gerações vindouras ...
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